domingo, 23 de fevereiro de 2014


Às vezes tu me habitas como ruídos a uma casa, 
como marcas a um rosto que por elas se define 
e te lembrar é voltar ao que há de mais meu em mim mesma,
à parte de mim mesma que me revela e me assombra.

Às vezes eu quase te esqueço,
quase te perco 
e quase sou completamente triste 
e quase sou completamente outra 
sem a interrogação onipresente dos teus olhos, 
sem a incompreensão cúmplice da tua voz.

Estás em mim e não há nada a fazer, 
mesmo a meio da noite, 
quando és um vazio cheio de pontas,
mesmo a meio da frase, 
quando és um gole de ar no lugar do teu nome. 

Tu és meu porque de ti sou feita
e negar-te a mim seria parir-me ao contrário. 

Aceito assim meu ofício de habitar-me tu - 
ainda que a mim nunca regresses, 
mesmo que de mim jamais tenhas partido.

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