terça-feira, 20 de maio de 2014

Pudores ...



Que pudores posso ter
se o teu toque me desmonta.
Esse toque visceral, 
imoral, e imperfeito.
Mas que percorre o meu corpo suado
e te transforma nas sendas
do meu pecado
Que pudores posso ter
se a tua boca insana
me estremece nessa cama
fazendo o inimaginável no meu ser


Que pudores posso ter
se me engoles por inteiro
e me devoras de janeiro a janeiro
nos inarráveis momentos de amor
sem hora marcada para acontecer

Que pudores posso ter?

(AD)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Tenho-te ...



Tenho-te em tuas umidades, no calor do teu abraço e nas gotas de suor que se espalham pelo teu corpo.
Tenho-te em tua pele lisa, teus cabelos colados, teus pêlos grudados, teu visgo, tuas águas, teus caminhos de charcos, os pequenos rios no teu pescoço, o sabor salgado do lóbulo da tua orelha, tua testa brilhante, tuas narinas abertas, tuas pupilas dilatadas.
Tenho-te em alta temperatura misturado a mim, confundido em líquidos e sumos, sede e fonte, mar em onda, céu de chuva.
Tenho-te emaranhado e deslizante, em vapor e respingos, em poros abertos, em cheiro de bicho, em cio de gente.
Tenho-te na língua que colhe o gosto, nos lábios que escorregam, na boca que dança lúbrica por frestas molhadas e se embriaga de essências profundas, de perfumes e cansaços.
Tenho-me docemente embebida por ti.

domingo, 4 de maio de 2014

E se eu dissesse que te amo tanto tanto ...


E se eu dissesse que te amo tanto, que te amo mais absolutamente pregado à luz das paredes, 
ao amarelecer da tarde em que te ausentas, ao entardecer do dia em que teu cheiro revoa preso ainda às almofadas, 
à cama, aos livros que estiveste lendo, à tua mesa. E se eu dissesse que te amo tanto, que te amo ainda e mais,
 num amor que espera à janela, que floresce silencioso nas frestas das pedras, nas ranhuras da sacada e vai se urdindo solar contra as nuvens, 
contra os cinzas, contra a ferrugem do tempo e vai descobrindo os doces embaixo do amargo da língua, onde a palavra é menos signo e mais sinal, 
onde o som é quietude, um descansar de cabeça no teu peito, tua mão entrelaçada à minha, um vazio que se enche rumoroso de cumplicidade branca
e morna. E se eu te dissesse que te amo tanto, que te amo esquecida de como se ama de forma outra que não essa em que me refaço entre tuas mãos, 
em que doem em mim partos de olhar e fome, ânsia do teu corpo, saliva e menta, tabaco e um cheiro doce aqui mais perto do nariz e meus seios são teus. 
E se eu dissesse que te amo tanto.