E se eu dissesse que te amo tanto, que te amo mais absolutamente pregado à luz das paredes,
ao amarelecer da tarde em que te ausentas, ao entardecer do dia em que teu cheiro revoa preso ainda às almofadas,
à cama, aos livros que estiveste lendo, à tua mesa. E se eu dissesse que te amo tanto, que te amo ainda e mais,
num amor que espera à janela, que floresce silencioso nas frestas das pedras, nas ranhuras da sacada e vai se urdindo solar contra as nuvens,
contra os cinzas, contra a ferrugem do tempo e vai descobrindo os doces embaixo do amargo da língua, onde a palavra é menos signo e mais sinal,
onde o som é quietude, um descansar de cabeça no teu peito, tua mão entrelaçada à minha, um vazio que se enche rumoroso de cumplicidade branca
e morna. E se eu te dissesse que te amo tanto, que te amo esquecida de como se ama de forma outra que não essa em que me refaço entre tuas mãos,
em que doem em mim partos de olhar e fome, ânsia do teu corpo, saliva e menta, tabaco e um cheiro doce aqui mais perto do nariz e meus seios são teus.
E se eu dissesse que te amo tanto.